Sei que a construção dessa frase soa estranha aos nossos ouvidos. Mas, ela é a mais pura e linda verdade.
Já cansei de ouvir a seguinte asneira no meio evangélico: “Oh meu irmão, Deus acredita emvocê”. Essa frase é tão absurda quanto ridícula. Acreditar significa conforme o Dicionário Aurélio “dar crédito a”, ou seja, quando dizemos que Deus acredita numa pessoa, não só invertemos a ordem teológica dos fatos (pois, é o homem quem deve acreditar em Deus confiando na Sua Palavra e poder e não o contrário), como também estamos dizendo que pecadores miseráveis são merecedores de crédito (ainda mais o de Deus!).
O que de fato aconteceu é que Deus creditou a Sua Justiça a nós através do sacrifício de Jesus, ou seja, Ele colocou na nossa conta algo que jamais teríamos condições de ter por nossos próprios méritos. O termo bíblico para isso é “imputar”. Um dos textos bíblicos que mostram isso é Romanos 4.3-5:
“Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”.
Este texto merece a nossa consideração. Tomando como exemplo a Abraão, o grande patriarca, a Bíblia nos mostra que ele,quando chamado por Deus para sair do meio de sua parentela e ir para uma terra a qual Deus lhe mostraria, agiu pela fé obedecendo a de Deus. Crer é obedecer. No momento em que ele se dispõe a crer e a obedecer a Deus, ele foi justificado, ou seja, recebeu a justiça de Deus. Foi Abraão quem acreditou em Deus, e, por isso mesmo, Deus creditou a ele Sua Justiça.
Mas, a Justiça de Deus em momento algum foi merecida por Abraão por meio das obras, mas, foi adquirida por meio da fé. Observe o que diz o texto de Romanos 4.4 5: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça”. Se um trabalhador dá do seu tempo e esforço físico e mental para realizar um trabalho ele merece o salário como pagamento, e, por isso mesmo, o empregador está lhe devendo. Porém, se nenhuma obra foi feita, antes, o que houve foi fé, então a Justiça de Deus é adquirida pelo pecador. É claro que a fé não exclui as obras, pois, Abraão quando creu obedeceu a Deus fazendo o que Ele lhe mandou.
Quero ainda voltar no ponto central dessa meditação: a imputação da Justiça de Deus ao pecador (Deus creditando, pondo na conta do pecador). Assim como Abraão agiu com fé e obediência a Deus, hoje nós também devemos fazer o mesmo, isto é, “olhando firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé, Jesus…” (Hebreus 12.2). Nossa fé deve estar em Jesus Cristo assim como nossa obediência deve ser total a Ele. Lá na cruz do Calvário, Cristo derramou Seu precioso sangue para salvar o Seu povo. Sobre este povo repousa a Justiça de Deus por meio do sangue de Jesus. De outra forma podemos dizer que quando Deus olha para nós Ele não vê nosso pecado e feiura, mas, sim, vê o sangue de Seu Filho, e por amor a esse precioso sangue Ele nos poupa e nos dá a vida eterna.
Deus creditou a mim a Sua Justiça, quando na verdade eu estava em dívida com Ele. Onde eu encontro esse amor ou algo parecido a não ser somente no Deus que é amor? A quem mais devo louvar por tão grande amor? Como posso conferir a outro a minha gratidão senão a Deus? Quem mais pode me dar tamanha alegria, satisfação e plenitude de vida, senão meu precioso Jesus?
É por isso que eu discordo de outro jargão tão popular (e até banalizado) no meio evangélico, a saber, “aceitar a Jesus como Salvador”. Há bem da verdade, foi Ele quem me aceitou do jeito que eu era, um pecador depravado (totalmente) e inimigo Dele (Romanos 5.6-8). Não se trata de aceitar a Jesus, mas, sim, de ser aceito por Ele, de se tornar aceitável a Deus por meio de Jesus. E se me perguntarem se eu aceito a Jesus, é claro que sim! Mas, a fé que eu tive e tenho depositado Nele, foi Ele quem me deu (Efésios 2.8-10); a nova vida que eu tenho é resultado do sacrifício Dele (Efésios 2.1); a paz que tenho com Deus resulta da justificação (imputação da Justiça de Deus a mim) realizada por Jesus (Romanos 5.1); enfim, tudo o que sou e que tenho, sou e tenho em Cristo e na Sua Graça.
Mas, meu coração ainda tem de ser tratado, subjugado e disciplinado por Deus, pois, é com tanta infantilidade que muitas vezes me aproximo Dele para louvá-Lo que fico envergonhado quando penso nisso. Quantas vezes me disponho a louvar a Deus na tentativa de “retribuir” a Ele por seu maravilhoso amor. Então, quando estou ali louvando-O, Ele me enche com mais alegria e satisfação ainda que só posso dizer como o salmista: “Que darei ao SENHOR por todos os seus benefícios para comigo?” (Salmo 116.12). Minha vida? Meus bens? Nada eu posso Lhe dar porque tudo sempre foi e será Dele. Então nesse momento meu coração se aquieta e se deleita Nele, e tão somente Nele encontro a felicidade e a Justiça que tanto necessito.
Rev. Olivar Alves Pereira
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