quinta-feira, 22 de agosto de 2013

REFLEXÕES SOBRE A MORTE



A idéia da morte, até que nos defrontemos com ela, é tão estranha a nós, que aprendemos a desconhecê-la e viver como se ela não existisse. Exatamente, porque do contrário não teríamos condições de sobreviver, pois vivemos as nossas paixões como se jamais fôssemos atingidos. Assim uma leviana sensação nos embala no viver, como se a morte nunca nos colhesse e apenas acometesse aos outros, cujo desaparecimento choramos, na insustentável persuasão de uma hipotética eternidade neste mundo.

De repente, no entanto, ameaçados pelo perigo iminente que ronda, refletimos como Jó, o personagem bíblico: “Porque há esperança para a árvore, pois mesmo cortada ainda se renovará, e não cessarão os seus rebentos; se envelhecer na terra a sua raiz e no chão morrer o seu tronco, ao cheiro das águas brotará e dará ramos como a planta nova. O homem, porém, morre e fica prostrado; expira o homem, e onde está? Como as águas do lago se evaporam, e o rio se esgota e seca, assim o homem se deita e não se levanta: enquanto existirem os céus não acordará, nem será despertado do seu sono”. Ou como Samuel, o profeta e sacerdote em Israel: “Porque temos de morrer, e somos como águas derramadas na terra que já não se podem juntar”. Ou ainda como Davi, o rei e poeta: “Eu vou pelo caminho de todos os mortais”.

Esse pensamento, integrante no contexto religioso algumas vezes milenar do AntigoTestamento, nos mostra que não apenas a cultura ocidental, mas também as demais têm dificuldade quanto ao trato ou administração dessa contingência trágica da vida.

O ensino evangélico e apostólico, porém, embora confirme esse realismo contundente expresso na concepção hebraica [basta ouvir a esse respeito o Dr. Paulo, ex Saulo de Tarso: “O salário do pecado é a morte”, “O último inimigo a ser vencido é a morte”, “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?”], nos acode e consola. Daí as promessas claras e firmes de Jesus, o Verbo de Deus. E como precisamos ouví-las! Dentre elas destacamos estas: “Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento, mas os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos não casam nem se dão em casamento; pois não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição”. ”Deus não é Deus de mortos e sim de vivos; porque para ele todos vivem”. “Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna; não entra em juízo, mas passou da morte para a vida”.

Com base nessas promessas concluímos que ao morrer - deixando de existir como pessoa, agente da história, efetiva personalidade - alcançamos a imortalidade, permanecendo como objeto do amor, compaixão e afeto divinos, e ascendemos à condição de bem-aventurança e glorificação eternas. Como dizia Santo Agostinho, “a vida não é mortal; a morte é que é vital”. Podemos, portanto, fazer a nossa declaração de fé resoluta e convictamente, ou seja: somos inebriados pela vida naquilo que ela tem de belo e fascinante e apaixonados pela morte naquilo que ela tem de livramento e redenção! Tudo isso, porém, é matéria de fé; jamais de especulação acadêmica, científica ou filosófica.

Concluindo, como Jesus chorando diante da sepultura do amigo Lázaro, choramos os nossos mortos e a nossa própria morte, pranto que reflete a nossa condição humana limitada, porque a lágrima é a última instância da dor, emoção que se materializa. Mas o fazemos em paz, com esperança, no amor solidário e, sobretudo na fé depositada nas palavras consoladoras de Jesus: “Não se turbe o vosso coração; vou preparar-vos lugar para que onde eu esteja, estejais vós também”. 

Rev. Ephrain Santos de Oliveira

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